O método científico foi o método que trouxe a humanidade até o ponto onde nos encontramos. Você só está lendo este texto em seu smartphone ou computador graças a este método. Não estou falando da matéria de faculdade chamada “Metodologia científica”, obrigatória em muitos cursos superiores, que alguns professores ruins conseguem tornar irritante até o próprio nome da matéria.
Estou falando do método que de certa forma já vem embutido em todos seres vivos.
Consegue-se observar facilmente nas crianças brincando, o método em ação: Joãozinho e Pedrinho tem quatro anos de idade e um dia se depararam com uma poça de água na rua da sua casa. Um deles viu algumas pedras e começou a atirá-las na poça, sendo rapidamente imitado pelo outro menino. Eles atiravam a pedra e a observavam afundar na água. Para cada pedra que um deles pegava na mão, antes de jogar na poça, uma hipótese era formulada: “Vou jogar e ela vai afundar”.
O experimento de Pedrinho consistia em jogar a pedra na poça, coletar os dados, e confirmar ou invalidar sua hipótese inicial: “A pedra realmente afundou”. Joãozinho confirma o experimento de Pedrinho jogando também uma pedra na mesma poça. Esta é a validação do experimento por outro cientista igualmente competente. Conclusão e novo conhecimento adquirido por eles: As pedras afundam na água!
O conhecimento permanece verdadeiro e ativo até que Pedrinho revirando o pequeno monte de pedras encontra uma pedra um pouco diferente e atira na água, tratava-se de um pedaço de carvão. A reação de espanto dos dois foi muito interessante: “Uma pedra que não afunda!!”. Joãozinho imediatamente põe o pé na poça e pega o pedaço de carvão e arremessa-o novamente na poça, supondo que agora irá afundar, pois o conhecimento anterior adquirido dizia que as pedras afundam. Porém, os dados coletados por ele contradizem sua hipótese e ele conclui com seu novo experimento que aquela pedra não afunda. Os dois pegam o pedaço de carvão e vão conversar com suas mães, as cientistas mais experientes que terão uma base científica mais ampla para que possam usar este novo conhecimento em novos experimentos.
O INTERESSE, PERGUNTAS E HIPÓTESES:
Perceba que todo o ciclo de aquisição de conhecimento, seja dos meninos, seja de uma empresa, profissional, etc, inicia-se com o interesse: “O que acontece se eu jogar a pedra na água?” E o interesse pode ter várias motivações: Necessidade, desejo, desafio, propósito ou até mesmo pura curiosidade como no caso dos meninos.
O interesse é o combustível inicial para todo o processo. O interesse desencadeia todas as perguntas que formularão as hipóteses, sendo então, o raciocínio crítico determinante nesta etapa do processo que chamo de “Reação em Cadeia” do método científico. A capacidade de fazer boas perguntas será decisiva na aquisição do conhecimento. O que iria acontecer se Pedrinho não tivesse feito a pergunta “O que acontece se eu jogar a pedra na água?”. Essa é fácil de responder: Iria acontecer o que aconteceu com o Luizinho: Ficou ao lado da sua mãe vendo desenho da Peppa Pig no celular, e não sabe que algumas pedras não afundam, e, irá duvidar da história que o Pedrinho irá contar sobre “A pedra que não afunda”.
O EXPERIMENTO
Após as perguntas e formulação das hipóteses vem a parte mais divertida, os experimentos. “Vamos jogar as pedras na água!”. Conforme os experimentos vão evoluindo, joga a pedra com mais força, mais alto, uma pedra maior, uma pedra branca… os dados vão sendo coletados invalidando ou validando suas hipóteses iniciais.
Perceba que no meio dessa busca por algo diferente para colocar no experimento, Pedrinho encontrou a “Pedra que não afunda”. Essa busca foi motivada por um tipo diferente de lógica que vinha sendo aplicada pelos dois meninos. Esta é a lógica abdutiva ou produtiva: “E, se eu jogar essa pedra diferente que eu achei?”
LÓGICA PRODUTIVA OU ABDUTIVA
Diferente do tipo de lógica indução/ dedução, a abdução te leva para campo inesperados do projeto. A indução te faz buscar conhecimentos através de testes, pesquisas; e a dedução te faz, a partir destes testes concluir algo. Pedrinho e Joãozinho poderiam ter saído da brincadeira com a conclusão inicial fruto do ciclo indução/dedução, mas Pedrinho não deixou assim. Havia uma pergunta diferente: “Todas pedras afundam?”. Esta pergunta ficou incubada até que ele encontrou uma pedra muito diferente das demais.
Este tipo de raciocínio corre em paralelo com o método científico tradicional e o ciclo indução/dedução. É esta incubação de ideias retroalimentada pelo ciclo indução/dedução, que fomenta a fusão de ideias/hipóteses anteriores, alimentando um experimento ainda mais poderoso que os experimentos oriundos da pura indução. É a lógica indutiva mais a lógica produtiva trazendo melhores dados e potencializando ainda mais o conhecimento. Tentei fazer uma representação gráfica básica desta reação em cadeia abaixo.
É frequente ver em projetos que venho orientando, principalmente na área de exatas, é que conseguimos lidar relativamente bem com o lado esquerdo do esquema, porém, inevitavelmente o lado direito também entra em ação, mesmo que você não perceba. O processo não é linear, como gostam a maioria dos engenheiros, e nem tão organizado como na figura acima. Apenas algumas etapas do lado esquerdo estão bem definidas e temos certo controle sobre estas. Outras, do lado direito, não temos controle. Não conseguimos saber exatamente como e quando ocorrerá a fusão das ideias. Depende do processo de incubação e preparação. Uma pergunta é certa: Quem pula a etapa de preparação e incubação espera fundir o que?
Por isso algumas pessoas têm preferência por um ou outro caminho, crítico ou criativo, e alguns sequer acreditam em um lado ou outro. A prática desmistifica o processo. Se você não se auto sabotar com o viés dos dados, perceberá na prática que os dois ramos atuam em conjunto.
Existe um provérbio indígena que diz:
Neste caso, os dois lobos são o raciocínio crítico e o criativo e nós temos plenas condições de alimentar os dois. Por que alguns deixam um dos lobos morrer? Por que não alimentam os dois, deixando-os saudáveis e usando-os no momento certo? Lembre-se: Nem sempre é necessário o usar dos dois, nem com toda sua força e nem sempre todos os truques de que são capazes de fazer. Este discernimento cabe ao dono dos lobos.
PS.: Esta ideia da metáfora dos lobos só me ocorreu ao final do artigo, quando estava procurando uma boa conclusão para escrever. Não estava planejada. Foi uma ideia que estava incubada em minha cabeça, não faço a menor ideia por quanto tempo e só se fundiu a este texto porque eu estava escrevendo sobre este tema. Eu nunca teria tido esta ideia se não tivesse me preparado, ou seja, lido sobre o provérbio dos lobos, lido sobre boas ideias e colocando-as em prática neste exato momento em que vos escrevo.
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